2. Aula-visita ao Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, com ênfase nas atividades do Projeto "Replicando o Passado" durante a programação do Projeto "Museu de Portas Abertas"
Esta Oficina de História consiste em uma experiência de aula-visita ao Campus de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém-PA. Este momento pode contribuir para a construção de aprendizagens em História dos estudantes a partir do contato com réplicas de artefatos arqueológicos da Cultura Marajoara. Este momento proporcionou um contato visual e, como esclareceremos a seguir, até mesmo a partir do tato e da audição. A turma inteira se fez presente a partir de uma programação realizada anualmente pela Instituição: O "Museu de Portas Abertas". As réplicas foram produzidas e apresentadas a partir do Projeto "Replicando o Passado". Desde já, meus agradecimentos ao MPEG, à equipe de Arqueologia, à equipe do Projeto "Replicando o Passado" e à equipe do Projeto "Museu de Portas Abertas", que muitíssimo contribuíram para o êxito da atividade.
A organização desta atividade obedeceu às particularidades das atividades propostas pela Coordenação de Ciências Humanas e à equipe de Arqueologia da Instituição, além da programação do "Museu de Portas Abertas", do MPEG no ano de 2019. Portanto, torna-se difícil sugerir procedimentos metodológicos para visitações nos anos seguintes. Focaremos a seguir no relato de experiência desta aula-visita.
CONTEÚDOS
"Ideias substantivas"
- importância dos museus na salvaguarda dos documentos históricos;
- a ciência "Arqueologia", seus procedimentos e contribuições para o conhecimento histórico.
- Técnicas e modo de vida das sociedades da fase Marajoara "comunicados" na cultura material.
"idéias de segunda ordem"
- Identificação dos artefatos da Cultura Marajoara, a partir de suas características: grafismos predominantes, policromia e reconhecimento comparado às fotografias previamente vistas em livros, catálogos ou textos didáticos (como o que está disponível neste site na secção "recursos didáticos";
- Formulação de inferências acerca do processo de produção ("saber-fazer"), suas finalidades e consumo dos objetos, a partir da forma, do material, do processo de produção demonstrado na exposição e das informações compartilhadas pelos expositores.
- Perceber as transformações do significado a que o objeto foi exposto, na relação passado-presente.
Recursos
- Ônibus para o transporte, em segurança, dos estudantes no trajeto Escola - Museu - Escola.
- Para os estudantes: Caneta ou lápis para fazer anotações no relatório
- Atividade "Relatório da 'Aula-visita' ao Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi". O modelo utilizado para esta aula-visita está disponibilizado a seguir:
SOBRE O PROJETO "REPLICANDO O PASSADO"
O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém-PA desenvolveu uma parceria com alguns artesãos de do distrito de Icoaraci (Belém-PA), que resultou no Projeto "Replicando o Passado: socialização do acervo arqueológico do Museu Goeldi através do artesanato cerâmico de Icoaraci". De acordo com Lima, Barreto e Fernandes(2018), neste projeto que vem se desenvolvendo desde 2017, os artesãos tiveram acesso às coleções arqueológicas da reserva técnica da Instituição, participaram de oficinas sobre réplicas e critérios de reprodução, selecionaram as peças a serem replicadas de acordo com a relevância arqueológica e histórica, e a partir disto, iniciou-se a confecção de peças apoiados na observação direta das peças originais no MPEG (LIMA, BARRETO & FERNANDES, 2018, p. 156-158).
Tal projeto procura articular o externar do acervo do MPEG à divulgação do artesanato do distrito de Icoaraci agregando uma formação para a qualificação dos ceramistas na introdução de referências arqueológicas nas peças artesanais, valorizando os legados das culturas indígenas do passado. Salienta-se, ainda, que a proposta visa também a produção de coleções didáticas para o Museu Goeldi e para a comunidade oleira em Icoaraci, evitando o manuseio e o transporte de peças originais. (LIMA, BARRETO & FERNANDES, 2018, p. 156).
Sobre o Projeto "Museu de Portas Abertas"
Este
Projeto mobiliza os setores do MPEG para a socialização das informações
científicas e das pesquisas produzidas (e/ou em andamento),
promovendo a exposição de trabalhos e orientações sobre os temas. Em 2019, no Campus de
pesquisa do MPEG esta programação ocorreu nos dias 23 e 24 de outubro de 2019 e
a Coordenação de Ciências Humanas, na área da arqueologia, organizou duas
atividades a serem realizadas na área externa do bloco do Centro de Ciências
Humanas (CCH) e no salão de Arqueologia. Nesta ocasião, portanto, abriram-se as portas
desta Instituição à escola básica, possibilitando a visita dos estudantes da
turma selecionada para aplicação da pesquisa. Este projeto é uma excelente oportunidade para a participação de turmas inteiras para a visitação às atividades propostas pela Instituição. Em outros dias, as visitas precisam ser organizadas em frupos menores de estudantes.
Metodologia
Uma atividade de "Aula-visita" não se inicia quando os alunos são embarcados em um ônibus. Começa com bastante antecedência. É importante que seja realizada uma reunião com os responsáveis para o esclarecimento dos objetivos desta atividade ou, no mínimo, enviar pelos estudantes um documento de autorização para a participação destes na atividade, tendo os pais que o assinar para oficializar o consentimento. Relevante também é o envolvimento da equipe gestora da escola.
Para além da questão logística, uma aula-visita requer um contato prévio dos estudantes com a temática abordada no espaço de memória. A oficina 1, apresentada neste site, pode representar um bom direcionamento para o trato da Cultura Marajoara.
Podemos nos valer, neste sentido, de algumas sugestões apontadas por Circe Bittencourt, citando um artigo de Almeida e Vasconcelos (1999):
"(...) - Visitar a Instituição antecipadamente e alcançar uma familiaridade com o espaço a ser trabalhado;
- Verificar as atividades educativas oferecidas pelos museus e se elas se adequam aos objetivos propostos e, neste caso, adaptá-los aos próprios interesses.;
- Preparar os alunos para a visita através de exercícios de observação, estudo de conteúdos e conceitos;
- Coordenar a visita de acordo com os objetivos propostos ou participar de visita monitorada, coordenada por educadores do museu.
- Avaliar o processo educativo que envolveu a atividade, a fim de aperfeiçoar o planejamento das novas visitas, em seus objetivos e escolhas" (BITTENCOURT, 2005, p. 357)
Para orientar o olhar dos estudantes durante as exposições e observar as aprendizagens conformadas relacionadas à cultura material das sociedades ceramistas da Amazônia pré-colonial, organizou-se uma atividade, disponível para download acima. Quando os estudantes estivessem diante da exposição da equipe do Projeto "Replicando o Passado", fariam registros escritos e imagéticos acerca das réplicas dos artefatos arqueológicos. Após a exposição, os estudantes produziriam este relatório, organizando nele suas interpretações e inferências,
Aplicação da Aula-Visita: Breve relato de experiência
A aula-visita ocorreu na manhã do dia 23 de outubro de 2019. Ao adentrarem as instalações do Campus de pesquisa do MPEG, os estudantes da turma foram divididos em dois grupos de quinze estudantes, para melhor participarem das atividades programadas e por conta da limitação espacial de alguns laboratórios da Instituição. O professor de história procurou estar presente, sempre que possível, nos dois grupos de estudantes, fazendo registros fotográficos e dando orientações para a atividade que os estudantes realizariam.
Sendo levados ao Centro de Ciências Humanas (CCH) para a socialização dos trabalhos da equipe de Arqueologia, os estudantes participaram de uma apresentação introdutória na área externa próxima à entrada do bloco do CCH. A área estava organizada com um grande painel informativo ilustrado com diversas fotografias do trabalho do arqueólogo e de diversos tipos de sítios arqueológicos. Além disso, havia uma simulação de um sítio arqueológico em uma pequena área gramada. Nesta, simulou-se uma prospecção arqueológica na qual se apresentou algumas ferramentas e alguns objetos cerâmicos. Os dois expositores apresentaram didaticamente as etapas do fazer do arqueólogo: pesquisas preliminares, escavação, estudos do material no laboratório, acondicionamento e exposição, divulgação do conhecimento (etapa chamada por eles de extroversão). Este momento durou por volta de quinze minutos.
Em seguida os grupos foram encaminhados para o salão de arqueologia, decorado com banners ilustrativos de cerâmicas arqueológicas e diferentes sítios e tinha duas grandes mesas de exposição. A exposição da primeira mesa referia-se a aspectos do trabalho dos arqueólogos nos laboratórios, com a análise de materiais. Neste momento, as expositoras apresentaram diferentes materiais e os respectivos tratamentos dados a eles.
A
segunda mesa, mais interessante para a atividade proposta no relatório que os
estudantes preparariam (arquivo disponível para download acima), era uma exposição dos objetos
cerâmicos do projeto "Replicando o Passado". Os expositores eram os próprios
ceramistas do projeto que, inclusive, encontravam-se produzindo alguns objetos.
Nesta mesa havia réplicas de pratos, urnas funerárias, estatuetas e vasos das
Culturas Marajoara, Maracá e Santarém. Havia ainda tangas marajoaras nesta
mesa. Em uma mesa de apoio, atrás dos expositores, que continha mais
réplicas de urnas funerárias Maracá e Marajoara, vasos Maracá e um alguidar
da Cultura Aristé.
A expositora esclarece os objetivos do projeto "Replicando o Passado", apresenta aspectos culturais das sociedades ceramistas da Amazônia pré-colonial e indica as funcionalidades dos objetos no contexto em que os "artefatos arqueológicos" foram produzidos, salientando a transformação dos usos daqueles objetos ao longo do tempo. Inclusive, serviram de inspiração como objetos "originais" a serem replicados para sua melhor salvaguarda e garantir que a sociedade paraense reconheça o acervo arqueológico da Instituição, em um contato tridimensional. A exposição possibilitou, com os devidos cuidados, que alguns estudantes tocassem algumas peças e até mesmo ouvissem o som emitido pela estatueta maracá Marajoara, Esta exposição entusiasmou muitos estudantes e contribuiu para mudanças nas idéias dos estudantes, conformando aprendizagens acerca desta temática.
Após toda essa rica experiência de socialização de conhecimentos, os estudantes são orientados pelo professor-pesquisador a escolherem um objeto entre aquelas réplicas que estavam expostas e o fotografar ou desenhar, para assim poderem produzir o relatório direcionado pelo professor e registrarem suas inferências acerca daquele objeto.
Diante da própria organização das atividades do MPEG para este dia, que atendia a outras escolas, o professor orientou os estudantes a terminarem seus relatórios como tarefa extraclasse, a ser realizada em suas casas. Após a exposição, os estudantes direcionaram-se para outras atividades do Projeto Museu de Portas Abertas: seguiram para exposições nas áreas de botânica, entomologia, entre outras atividades oferecidas na programação do "Museu de Portas Abertas"