1. Oficina de História: Sociedades da fase Marajoara

16/10/2019

A oficina de História apresentada a seguir é direcionada aos docentes das disciplinas História e Estudos Amazônicos e é uma proposta metodológica para o ensino da temática "Sociedades da fase Marajoara". inspira-se nas propostas de "Oficinas de História" de Ana Mascia Lagôa, Keila Grinberg e Lúcia Grinberg (2000) e na "Aula-Oficina" de Isabel Barca (2004). 

Trata-se de uma sugestão e é seguida de um breve relato de experiência do momento em que o professor-pesquisador a aplicou em uma escola pública do município de Ananindeua(PA). No entanto, cada professor pode adequar as sugestões à realidade das escolas e das turmas em que atuam.

Conteúdos

"ideias substantivas": 

  • Introdução à importantes culturas ceramistas da Amazônia pré-colonial, com ênfase nas sociedades da fase Marajoara (400-1300)
  • aspectos do modo de vida (territórios ocupados, alimentação, uso de adornos e pinturas corporais), técnicas e rituais das sociedades da fase Marajoara a partir de informações de estudos arqueológicos, possibilitados pela cultura material legada por estas sociedades.
  • importância dos museus na salvaguarda dos artefatos. 

 "ideias de segunda ordem":

  • identificação dos artefatos arqueológicos a partir das hipóteses construídas pelos estudantes para os seus usos; 
  • formulação de hipóteses acerca dos usos dos objetos a partir da observação de sua forma e das representações contidas nestes; 
  • estabelecer a relação da cultura material das sociedades da fase Marajoara com o modo de vida destas sociedades pretéritas, percebendo aspectos das dinâmicas sociais a partir da produção e consumo destes objetos.


Recursos

  • Data-show;
  • Computador;
  • Slides contendo fotografias de objetos da cultura material das sociedades da fase Marajoara. (Alguns destes artefatos podem ser baixados na aba "alguns artefatos", acessado a partir do menu principal do site, disponível em https://ensinodehistoriafasemarajoara.webnode.com/alguns-artefatos/)
  • Material didático sobre Cultura Marajoara (disponibilizado para download em PDF neste site na aba "Recursos didáticos", acessado através do menu principal do site, disponível em https://ensinodehistoriafasemarajoara.webnode.com/recursos-didaticos/ )
  • Jogos "Cartas Marajoaras", em quantidade que atenda o número de estudantes na turma e lembrando que cada "baralho" do jogo atende até 5 estudantes em grupo. (disponibilizado em PDF para download na aba "Recursos didáticos", acessado através do menu principal do site, disponível em  https://ensinodehistoriafasemarajoara.webnode.com/recursos-didaticos/)


Duração: Sugere-se 3 ou 4 horas-aula (135 min - 180 min)

Metodologia

É importante disponibilizar aos estudantes uma cópia do Material didático sobre a Cultura Marajoara, sugerido acima (está disponível para download neste site, na secção "recursos didáticos". Se possível, disponibilize-o colorido, para que os estudantes possam observar as características policrômicas da produção ceramista marajoara. Este material didático apresenta textos escritos e imagéticos a respeito do tema, além de recortes de trabalhos arqueológicos de Schaan (2009) e Lima, Barreto e Betancourt (2016) como textos de apoio. Ainda contém algumas fotografias de artefatos produzidos pelas sociedades da fase Marajoara.

 O professor pode requisitar aos estudantes uma leitura prévia deste material didático ou então pode pedir aos estudantes que a façam nos primeiros minutos da aula. Em seguida, com o suporte de projeção de imagens de um data-show, o professor pode discutir com os estudantes acerca dos usos de elementos culturais destas sociedades no cotidiano, podendo ser encontrados a nível nacional, inclusive nas bordas da própria moeda de R$1,00 (um real) que carregam nos bolsos (LINHARES, 2017). Se a aula for no Pará, esta "missão" fica bastante facilitada pois os elementos culturais marajoaras podem ser mais facilmente encontrados (em algumas regiões) em souvenirs, estampas de camisetas, logotipos de restaurantes, etc. 

Um segundo momento da oficina pode ser organizado para a discussão a respeito do modo de vida dos índios Marajoara, utilizando o material didático como recurso didático. É importante esclarecer a importância de sua produção cerâmica e da construção dos tesos para a recuperação do passado destas sociedades. Portanto, para tais sociedades, recorre-se ao estudo da cultura material como fontes históricas. 

Um terceiro momento da oficina tratará da apresentação de artefatos cerâmicos das sociedades da fase Marajoara. Utilizando, novamente, um data-show, o professor pode projetar fotografias de pratos, vasilhas, urnas funerárias, tangas, estatuetas, entre outros objetos, a fim de suscitar, a partir da expressão oral dos estudantes, a elaboração de hipóteses sobre as finalidades e usos daqueles objetos, relacionando-os ao contexto em que foram produzidos e consumidos. 

Em um quarto momento, os estudantes podem ser divididos em grupos de até cinco integrantes. O professor apresentaria o jogo lúdico "Cartas Marajoaras" e as suas respectivas regras (pode ser baixado em PDF no site, na secção "recursos didáticos") e, então, distribuiria um "baralho" do jogo para cada equipe. É importante a supervisão destas equipes para que os objetivos de ensino-aprendizagem do jogo sejam alcançados. Obs: O jogo também pode ser usado como suporte para outras atividades pensadas e adaptadas pelos docentes para diferentes contextos e realidades.  



Aplicação da Oficina: breve relato de experiência

Esta oficina foi aplicada em uma escola pública no município de Ananindeua (PA) no dia 16/10/19. Ela foi planejada para ocorrer em três horas-aulas de 45 minutos. A primeira aula ocorreu durante o turno da manhã e as duas aulas restantes haviam sido agendadas para o mesmo dia no contra-turno. 

A primeira aula havia me reservado infortúnios: o data-show não funcionou e, alguns minutos depois, faltou energia na escola. No entanto, os cerca de 25 minutos "produtivos" da aula serviram para uma introdução à temática, apesar de não contar com os recursos tecnológicos previstos.

No contra-turno, o professor-pesquisador levou os estudantes à sala de leitura/biblioteca da escola. Lá haviam mesas grandes e o professor-pesquisador considerou o espaço adequado para a realização da etapa do jogo de cartas. Enfim, iniciamos a aula com uma apresentação oral com o apoio de slides projetados por um data-show. Esclareceu-se a relevância dos estudos acerca da cultura material como fontes históricas e de como os objetos de cerãmica contribuem para evidenciar a presença humana e as suas relações sociais. Enfatizou-se que os índios Marajoara não desenvolveram escrita e que as representações na cerâmica nos comunicam seu modo de vida. 

Em um terceiro momento o professor-pesquisador projetou alguns artefatos cerâmicos - para a observação e análise dos estudantes - referentes à cultura material destas sociedades. Estes momentos frutificaram muitas hipóteses lançadas pelos estudantes a respeito dos significados dos traços e formas dos artefatos arqueológicos. Ao apresentar, por exemplo, fotografias de estatuetas antropomórficas, nesta aula de 16/10/2019, alguns estudantes referiram representação de pessoas como "imagens" (associando-os às imagens dos santos católicos) e um estudante explicou: "por causa dos detalhes das mãos, detalhes da cabeça". Ainda nesta aula, quando mostradas imagens de tangas marajoaras, uma estudante afirmou ser aquilo "uma calcinha!" (referindo-se a uma peça íntima de vestimentas de mulheres, atualmente). Observam-se, a partir destas escolhas metodológicas, os esforços dos estudantes em explicar as sociedades pretéritas a partir de sua produção material relacionando-as preferencialmente aos usos de objetos que dialogam ou se aproximam com objetos cotidianos do presente destes estudantes. Mesmo assim, as respostas dos estudantes não se distanciam tanto das funcionalidades a respeito destes objetos arqueológicos: assim como as imagens dos santos católicos, as estatuetas marajoaras possivelmente serviram às finalidades rituais e as tangas marajoaras, assim como as "calcinhas", cobriam as partes íntimas das mulheres. 

Restando 40 minutos de aula e, após os exercícios de observação dos artefatos da fase marajoara projetados em um data-show, o professor-pesquisador apresenta aos estudantes o jogo, mostrando as cartas e explicando as regras do jogo para toda a classe. Os estudantes foram organizados em equipes de quatro integrantes e, então, o professor distribuiu quatro jogos de cartas entre os estudantes, tendo o cuidado de orientar acerca das regras do jogo em cada mesa. Quando uma partida acabava, outros estudantes entravam no jogo e os participantes anteriores explicavam as regras do jogo a eles e os acompanhavam, estimulando a interação e a cooperação entre eles. Após alguns minutos de aula, o professor-pesquisador observava bastante fluidez no desenvolvimento da atividade. Esta proposta garantiu o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem, tendo o jogo como um elo que mediou o conhecimento formal e a aprendizagem histórica destes estudantes.

Durante a execução do jogo, a maioria dos estudantes se demonstrou interessado e foi oportunizado a todos eles a participação neste. Alguns estudantes mostraram-se bastante entusiasmados com a atividade, afirmando estarem se divertindo.

Ao final da aula, alguns estudantes aceitaram gravar depoimentos em vídeo, avaliando a atividade. O professor-pesquisador perguntou a eles se achavam que o jogo os ajudava a aprender mais sobre a história das sociedades marajoaras. Perguntou-se ainda o porquê. Um estudante respondeu: "Sim. (...) Bom, porque o jogo, além de ser divertido, ele ensinou a gente, nos divertiu, eu acho né. (...), porque eu gosto dos jogos que ensinam como esse que o senhor acaba de passar".

Este relato de experiência foi escrito a partir dos registros do professor-pesquisador no seu diário de campo e a partir da gravação das aulas em áudio em formato MP3. 


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